Este site tem por objetivo a divulgação de poesias deste autor assim como textos e reflexões dos mais diversos autores desde os iniciantes aos mais consagrados. Que todos possam participar desta viagem rumo ao imaginário. Garnov
segunda-feira, 24 de agosto de 2015
Epitáfio
Espírito
é Vida
Ele flui por entre
a morte de mim
ininterruptamente
como um rio
sem medo
de tornar-se
o mar
Gregory Corso
NOITE
Sorria em cada esquina do caminho
tentando lembrar do dia em que
estávamos mais mortos que a sede dentro de nós mesmos por justiça
O medo jorrava dos ladrilhos sujos que
conectavam as celas sem portas dos nossos corações
Coçando a cabeça o cabelo escuro do
fim dos nossos dias em vez de voar ao vento estava sujo e sem brilho
a alma já cansada procurava um grito
no vento gelado dos elevados
nos mendigos sem teto mortos de fome
comendo cacos de vidro dentro de tubos de cachaça
fumando soquetes de lâmpadas com
canetas bique enrolados em cobertores marrons cor de terra
batida...dessa terra que se agita … que grita e grita...
O ar que sorria era a tortuosa vitrine
de uma ideia antiga...vontade de voar...
sem planador sem avião da janela do
pensamento
Nascia um momento ímpar sem
multiplicador comum
Arrastando o corpo sem vida
ouvi multidões e vomitei palavrões em
vão busquei a vida em tantas ilusões!
Trôpego dormi enrolado no jornal
embaixo do banco … na praça
inferno em vida … o melhor é dormir
Trôpego abri a janela do avião no
apartamento enrolado na fumaça
e dormi... dormi......
Garnov 05/2013
ALÔ
É desastroso ser um cervo ferido.
Eu estou muito ferido, os lobos rondam
e tenho meus fracassos também.
Minha carne ficou presa no Gancho Inevitável!
Quando criança vi todas as coisas nas quais não queria me
transformar.
Serei a pessoa que não desejava ser?
Aquela pessoa que-fala-sozinha?
Aquele de quem os vizinhos caçoam?
Serei eu aquele que, nos degraus do museu, dorme de lado?
Estarei usando a roupa do cara que falhou?
Sou um sujeito lunático?
Na grande serenata das coisas,
serei a passagem mais cancelada?
Gregory Corso
sábado, 22 de agosto de 2015
E então, que quereis?
Fiz ranger as folhas de jornal
abrindo-lhes as pálpebras piscantes.
E logo
de cada fronteira distante
subiu um cheiro de pólvora
perseguindo-me até em casa.
Nestes últimos vinte anos
nada de novo há
no rugir das tempestades.
Não estamos alegres,
é certo,
mas também por que razão
haveríamos de ficar tristes?
O mar da história
é agitado.
As ameaças
e as guerras
havemos de atravessá-las,
rompê-las ao meio,
cortando-as
como uma quilha corta
as ondas.
Maiakóvski (1927)
quinta-feira, 20 de agosto de 2015
Recomeço
Contanto que possamos viver
A cada dia
Milagrosamente...
Como plantas
Que brotam do asfalto
Bruto
Contanto que possamos cantar
Milagrosamente
Como os pássaros
Libertos
Das amarras do mundo
Contanto que possa te olhar nos olhos...
E transpor os portões
As linhas - os limites
De tudo que temos medo
Do fim e do começo
De nós mesmos
Contanto que estejas comigo...
O fim será
Recomeço
Garnov 03/2011
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